sexta-feira, 25 de maio de 2012

UM (Pt. 3)

Parte 1: http://insetosdecarne.blogspot.com.br/2012/05/um-pt-1.html
Parte 2: http://insetosdecarne.blogspot.com.br/2012/05/um-pt-2.html

UM (Pt. 3)

        E então chegamos ao momento mais memorável dessa jornada, o acontecimento que viria a aquecer minha solidão. Eu não sabia que cidade era aquela, era tudo desconhecido para mim, ficava observando as grandes raízes crescendo por entre os prédios e arranha-céus, a enorme cidade já estava dominada pela natureza, o verde crescia pelos destroços do velho mundo, foi a primeira vez em anos que eu vi o céu azul, puro e limpo, o mundo estava se recompondo, logo viriam novos seres vivos, novas evoluções, e o ser humano seria instinto. Caminhei por um tempo pela cidade, até que em um ponto eu parei para descansar, olhei a minha volta, estava tudo silencioso como já era de se esperar, sentei em um calçada e fiquei por um tempo pensando, tentando me lembrar do meus amigos, da minha família, do mundo, tentando me lembrar de como era minha vida antes de tudo isso, mas de algum modo eu não lembrei, talvez por ter ficado muito tempo tentando imaginar sobre a vida de pessoas que já estavam mortas, tentado reconstruir suas lembranças em minha mente, eu me esqueci de mim, eu esqueci de quem eu era, as vezes ainda tenho curtas lembranças da minha infância, mas nada realmente relevante sobre mim, eu passei tempo demais guardando objetos que não eram meus, eu fiz de mim um personagem sem historia, mergulhado em conto alheios e lembranças que nem ao menos eram minhas, eu não tinha nome, um dia eu tive, mas naquele momento eu já não me lembrava do meu, e isso não fazia importância, eu estava só, não precisava de um nome.
        Mas de repente o silencio é quebrado pelo som suave de um pequeno galho se quebrando, e o mesmo som é seguido de passos apressados, me virei rapidamente, e la estava, a uma distancia razoável, no chão, um pequeno galho partido em três pedaços, em levantei apressado e corri na direção dos passos, ao virar uma esquina só pude ver um vulto virando em outra, eu continuei a perseguir, sem saber se era real, ou se era apenas uma ilusão da minha mente cansada, então eu me vi em uma praça, a tipica praça de centro da cidade, não era tão grande, os destroços de prédios se destacavam, também haviam muitas árvores e raízes enormes, só então eu a vi, de costas, longos cabelos loiros para um pequeno corpo, era uma garotinha de uns sete anos, eu me aproximei, lentamente, para que ela não se assustasse, mas quando eu finalmente cheguei perto dela, ela saiu correndo mais uma vez, também comecei a correr,  logo a alcancei e a segurei pelos ombros, eu estava de joelhos, o olhos azuis dela fitavam os meus, não parecia estar assustada, ma também não transmitia muita segurança. Me lembro de ter perguntado seu nome, ela não respondeu, perguntei se haviam outros, ela continuou quieta com cara de duvida, só então eu entendi, ela não sabia falar, nem sabia o que as palavras significavam, mas eu estava tão feliz de ter encontrado alguém, eu a abracei, mesmo sem saber que era, de onde viera, eu nem ao menos sabia se ela era real. Mas naquele momento ela também se sentiu bem por eu estar ali, eu a soltei, e então ela agarrou minha mão e começou a me puxar, estava me levando a algum lugar, e eu fui, não tinha nada a perder. E então, chegamos a sua casa, não era bem uma casa, era um buraco embaixo de um monte de destroços, mas era lindo, a luz podia entrar e iluminar quase todo o local, havia água, uma grande possa havia se transformado em um pequeno lago, em um canto havia a raiz de uma enorme arvore, alguns frutos que caiam dela iam parar direto na casinha improvisada da garota. E ali, em um outro canto, havia uma caminha, sobre ela, um boneco de madeira feito a mão, talvez tenha sido feito por seus pais antes de partirem, e o que me fazia acreditar nisso era uma foto de família, a mãe, o pai e a garotinha, todos sorridentes na época em que o mundo ainda era mundo, na foto, a garotinha era bem menor, devia ter uns três anos ou menos.
        E agora eu não estava só, eu cuidei dela, ela cuidou de mim, eramos como pai e filha, eramos melhores amigos, nó brincávamos e riamos, mesmo sem nunca dizer uma palavra. Naquele momento nós eramos DOIS, mas logo o mundo desabaria mais uma vez...


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